Yantra: um símbolo de conexão entre o humano e o divino

Yantra: um símbolo de conexão entre o humano e o divino

Prof. Ms. Luciano do Amaral Dornelles
@prof.lucianodornelles
17/10/23

A yantra é um diagrama geométrico que representa um aspecto da realidade espiritual, usado como um instrumento de meditação, concentração e contemplação nas tradições religiosas da Índia. A palavra yantra significa literalmente “máquina, dispositivo, ferramenta” e deriva da raiz sânscrita yam, que significa “controlar, restringir, conter”. A yantra é, portanto, uma forma de controlar e canalizar a energia cósmica para um propósito específico, seja ele material ou espiritual (FEUERSTEIN, 2001).
A yantra é composta por elementos básicos, como pontos, linhas, círculos, triângulos, quadrados, lótus e outros símbolos que representam conceitos filosóficos, cosmológicos e teológicos, e cada um desses elemento tem um significado simbólico e uma função energética.
Começando pelo ponto central (bindu) que representa a origem e a essência de tudo, ele é o princípio supremo (brahman), ao redor temos o círculo (chakra) que representa o ciclo da existência, uma manifestação do universo vivo. O triângulo (trikona) representa a trindade divina (trimurti), de criação, preservação e destruição, o quadrado (bhupura) representa a terra, o espaço delimitado, a ordem e a estabilidade e o lótus (padma) representa a pureza, a beleza, a perfeição e a transcendência (KAHNNA, 2003).
Cada yantra é geralmente associada a uma divindade específica, que é invocada por meio de um mantra (som sagrado) e de um ritual (puja), essa divindade é considerada como a personificação da yantra, que é o seu corpo sutil ou forma energética. A divindade invocada pela yantra depende do tipo e do propósito da yantra, e existem infinitas yantras, o que já nos diz que esta prática nos leva a infinitas divindades, cada uma com seu próprio mantra, ritual e simbolismo. Por exemplo, o Sri Yantra é o yantra de Tripura Sundari, a deusa suprema do tantra, que representa a beleza, a harmonia e a perfeição do universo. O Ganesha Yantra é o yantra de Ganesha, o deus elefante que remove os obstáculos e concede a sabedoria e a
prosperidade. O Shiva Yantra é o yantra de Shiva, o deus da destruição e da transformação, que representa o poder, a pureza e a consciência (estas divindades são algumas das mais reverenciadas).
O conjunto de formas, mantras e pujas nos apontam que cada divindade tem sua própria energia e personalidade, que pode ser acessada por meio da meditação na yantra correspondente. A yantra é uma forma de se conectar e se sintonizar com a divindade, buscando sua bênção, sua proteção ou sua orientação, mas é também uma forma de se expressar e se dedicar à divindade, oferecendo sua devoção, sua gratidão ou seu amor. A yantra é, enfim, uma forma de se tornar um com a divindade, realizando sua essência, sua vontade ou sua missão, ela é considerada como o diagrama do corpo sutil do praticante, que
busca se alinhar com a energia da divindade. A yantra é um grande símbolo de conexão entre o humano e o divino, uma comunicação entre o microcosmo e o macrocosmo (RAWSON, 1997).
A origem histórica da yantra é incerta, mas há evidências de que ela remonta à época védica (1500-500 a.C.), quando os rituais eram realizados em altares geométricos construídos com tijolos ou pedras. Esses altares eram considerados como representações do universo e dos poderes divinos que nele atuavam. Os sacerdotes védicos usavam fórmulas matemáticas para calcular as dimensões e as proporções dos altares, buscando harmonizar as forças cósmicas e obter benefícios materiais ou espirituais (FRAWLEY, 1990).
A yantra se difundiu nas culturas asiáticas influenciadas pelo budismo, como o Tibete, a China e o Japão, e recebeu outros nomes conforme ia sendo disseminada por novas culturas, como mandala ou thangka no Tibete, moji-mandara ou shingon-mandara no Japão. A mandala é uma forma circular que contém imagens de divindades budistas dispostas em uma ordem hierárquica e simétrica, e é usada como um suporte para a meditação e para a iniciação nos ensinamentos esotéricos do budismo. A mandala é também um modelo do universo e da mente, que busca expressar a harmonia e a interdependência de todos os fenômenos (LEIDY,
1997).
A yantra é, portanto, um símbolo sagrado que revela a estrutura e o funcionamento da realidade espiritual, que é oculta aos sentidos comuns. É um meio de comunicação e de transformação, que permite ao praticante entrar em contato e se sintonizar com as energias divinas que permeiam o universo, uma expressão da sabedoria e da arte das antigas tradições religiosas da Índia e da Ásia, que nos convidam a explorar e a transcender os limites da nossa percepção e da nossa consciência.

Referências
FEUERSTEIN, Georg. The Yoga Tradition: Its History, Literature, Philosophy and Practice.
Prescott: Hohm Press, 2001.
FRAWLEY, David. From the River of Heaven: Hindu and Vedic Knowledge for the Modern Age.
Delhi: Motilal Banarsidass, 1990.
KHANNA, Madhu. Yantra: The Tantric Symbol of Cosmic Unity. Rochester: Inner Traditions, 2003.
LEIDY, Denise Patry; THURMAN, Robert A.F. Mandala: The Architecture of Enlightenment. New
York: Asia Society Galleries; Tibet House; Shambhala Publications, 1997.
RAWSON, Philip. The Art of Tantra. London: Thames & Hudson, 1997.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *