O tempo e suas múltiplas dimensões
Prof. Ms. Luciano do Amaral Dornelles
@prof.lucianodornelles
Tempo é uma palavra de origem latina, tempus, que é equivalente à palavra grega Χρόνος (Cronos ou Krónos), uma categoria da nossa mente, que nos faz distinguir o agora do antes e do depois. Não é possível definir sua essência, já que não sabemos se o tempo existe independentemente da realidade exterior (o tempo é absoluto, existe infinitamente) ou se é apenas uma ilusão, uma criação da nossa consciência, uma organização de fatos e de memórias destes fatos que nos faz imaginar como real algo que já aconteceu ou a expectativa do que ainda está por acontecer (o tempo subjetivo, mais uma das criações humanas).
Seja qual for sua natureza, o conceito de tempo está envolvido profundamente na nossa existência, sendo objeto de estudo de várias áreas de conhecimento: Mitologia, Filosofia, Psicologia, Matemática, Astronomia, Artes (Literatura e Cinema). A busca de sua definição intrigou os melhores pensadores, filósofos e cientistas, do idealista Platão ao existencialista Heidegger. Platão, em seu diálogo Timeu, procura definir o Tempo como “a imagem móvel da Eternidade” (Platão, 2011, p. 32), sugerindo a ideia de um tempo que passa como manifestação de uma Presença que não passa. Platão utiliza a noção de demiurgo como inteligência ordenadora do Universo, noção esta que Platão recebeu de Anaxágoras: concebendo o Nous como “a inteligência ordenadora do cosmos” (2007, p. 12), mas que modificou para dar um caráter artesanal ao seu criador. Em outra visão, Heidegger fala de memória e antecipação, pensa nelas como aquilo que deve ser, ou seja, embora se refira ao que já passou e ao que ainda não chegou, pensa isso como simultâneo ao presente em que se está: assim como o passado é um “ser-sido” (Gewesenheit) – o que ainda aí está apesar de passado -, assim também o futuro é a pura possibilidade, a “possibilidade enquanto possibilidade”, não o presente futuro, pois, segundo ele “o tempo é a condição de possibilidade do ser” (Heidegger, 2012, p. 45).
Já na ciência, diversas áreas do conhecimento utilizam-se da categoria do tempo, dessa forma, temos o tempo sideral, solar, universal, atômico, linguístico, climático, rítmico, mecânico, digital etc. São frutos da ciência os meios mais difundidos de medição do tempo: o calendário e o relógio. Os 365 dias do ano, as 24 horas do dia e os sessenta minutos da hora são também construções humanas para medir a passagem do tempo, adotados globalmente após convenções entre os diversos povos.
Na arte, especialmente na literatura, a temporalidade é um importante componente sintático-semântico de qualquer texto. É pela categoria do tempo que se salientam as relações: passado-presente-futuro; e os mecanismos aspectuais: incoativo-durativo-terminativo.
Enquanto as artes plásticas se baseiam no espaço, a ficção literária é uma arte predominantemente temporal: toda diegese pressupõe um começo, um meio e um fim. Um romance é constituído por uma complexidade de valores temporais, em que se implicam os tempos do autor, do narrador, da narrativa, das personagens e do leitor. Para esclarecer o emaranhado das várias determinações temporais, é preciso, em primeiro lugar, distinguir o tempo do discurso ou da enunciação do tempo da história ou do enunciado.
Como seres humanos, a noção de tempo é intrínseca, visto que somos capazes de reconhecer e ordenar os eventos que percebemos pelos nossos sentidos. Portanto, podemos concluir que o tempo é uma categoria complexa e multifacetada, que envolve aspectos físicos, psicológicos, filosóficos e artísticos. O tempo é uma forma de compreendermos a nossa existência e a nossa relação com o mundo. O tempo é também uma forma de expressarmos a nossa criatividade e a nossa imaginação. O tempo é, enfim, uma dimensão essencial da condição humana.
Referências
PLATÃO. Timeu. Tradução do grego, introdução e notas de Rodolfo Lopes. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2011.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2012.
ANAXÁGORAS. Fragmentos e testemunhos. Tradução de José Gabriel Trindade Santos. São Paulo: Loyola, 2007.