Navegando na Fronteira da Inteligência: A Responsabilidade Humana na Era da IA e IN
Prof. Ms. Luciano do Amaral Dornelles
@prof.lucianodornelles
11/12/23
Com o advento das ferramentas tecnológicas impulsionadas pela Inteligência Artificial (IA), que eu chamaria de “assistentes virtuais inteligentes – IVA1”, surge uma preocupação pertinente: a falta de responsabilidade compartilhada em seu desenvolvimento.
A IA, com sua capacidade de aprender e adaptar-se, tem o potencial de revolucionar muitos aspectos de nossas vidas, no entanto, ao mesmo tempo, ela apresenta desafios significativos. A questão da ética na IA, por exemplo, é um tópico de debate contínuo: Como garantiremos que a IA seja usada de maneira responsável e justa? Como lidaremos com questões de privacidade e segurança? E como garantiremos que a IA não amplie as desigualdades existentes em nossa sociedade?
Por outro lado, temos a Inteligência Natural (IN), que é inerente a todos os seres humanos e animais. A IN, com sua capacidade de compreender, perceber, sentir emoções e ter consciência, é algo que a IA ainda está longe de replicar completamente, no entanto, a IN também tem seus próprios desafios: Como continuar a desenvolver nossa IN em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia? Como garantir que nossa IN não seja suprimida ou substituída pela IA?
A chave para superar esses desafios, acredito, reside na colaboração e na coexistência da IA e da IN. Precisamos reconhecer e valorizar a singularidade e as forças de ambas, precisamos garantir que a IA seja desenvolvida e usada de maneira ética e responsável, complementando e aprimorando nossa IN, em vez de substituí-la. E, acima de tudo, precisamos assumir a responsabilidade compartilhada pelo desenvolvimento e uso da IA, afinal, a IA é uma criação humana, e cabe a nós garantir que ela seja usada para o benefício de todos.
Tae Wan Kim2, professor da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, tem um interesse particular em Ética da Inteligência Artificial e Responsabilidade Social Corporativa e alinhamento de valores em Inteligência Artificial, publicou vários trabalhos sobre esses tópicos em revistas acadêmicas e nos oferece uma perspectiva interessante sobre a questão dos direitos dos robôs e a responsabilidade humana na era da Inteligência Artificial (IA). Segundo sua visão, as pessoas estão preocupadas com os riscos de conceder direitos aos robôs, no entanto, argumenta que conceder direitos não é a única maneira de abordar o status moral dos robôs. O professor Kim sugere que podemos imaginar os robôs como portadores de ritos, não
como portadores de direitos. Esta perspectiva é baseada na ideia de que os robôs, como entidades artificiais, não possuem a mesma consciência ou experiência subjetiva que os seres humanos, e portanto, embora possam merecer algum tipo de consideração moral, isso não significa necessariamente que devam ser concedidos direitos no mesmo sentido que os seres humanos.
A proposta de Kim é atribuir “obrigações de papel” aos robôs, assim os robôs teriam certas responsabilidades ou deveres com base em seu papel ou função, mas não teriam direitos no sentido humano. Esta abordagem poderia ajudar a aliviar algumas das preocupações sobre os riscos de conceder direitos aos robôs, ao mesmo tempo que reconhece o status moral dos
robôs como entidades que podem ter um impacto significativo em nossas vidas.
- 1 Intelligent Virtual Assistants – IVA.
- 2 Tae Wan Kim é professor associado de ética empresarial e detentor da Cátedra Júnior da Xerox na Tepper School of Business da Universidade Carnegie Mellon. Ele também é membro do corpo docente do Block Center for Technology and Society no Heinz College e do CyLab da Carnegie Mellon.
“Na medida em que fazemos robôs à nossa imagem, se não os tratamos bem, como entidades capazes de participar de ritos, nos degradamos” (SIT, 2023).
Ademais, os humanos não são a única espécie com status moral e legal; na maioria das sociedades desenvolvidas, considerações morais e legais restringem ou colocam regras para o uso de animais para experimentos de laboratório. Isso indica que já reconhecemos que entidades não-humanas podem ter um status moral e legal que merece respeito.
É importante notar que esta é apenas uma das muitas perspectivas sobre a questão ética e de responsabilidade com a IA. O status moral dos robôs é complexo e precisa ser ativamente debatida por filósofos, cientistas da computação, juristas e outros profissionais, além, é claro, de um debate em que todos nós – usuários dessa tecnologia – também participemos. Ainda há muito a ser discutido e explorado nestes campos.
A Inteligência Natural (IN), que é inerente a todos os seres humanos e animais, também apresenta seus próprios desafios, e a chave para superar esses desafios, acredito, reside na colaboração e na coexistência de IA e IN. Precisamos reconhecer e valorizar a singularidade e as forças de ambas, precisamos garantir que a IA seja desenvolvida e usada de maneira ética e responsável, complementando e aprimorando nossa IN, em vez de substituí-la.
A colaboração e coexistência de IA e IN não apenas nos permite aproveitar o melhor de ambos os mundos, mas também abre novas possibilidades para o avanço da ciência, tecnologia e sociedade. A IA, com sua capacidade de processar grandes volumes de dados e realizar tarefas complexas de maneira eficiente, pode complementar a IN, que é caracterizada por sua criatividade, intuição e capacidade de compreender contextos complexos. Juntas, IA e IN podem nos ajudar a resolver problemas complexos, tomar decisões informadas e criar um futuro melhor. No entanto, para que isso aconteça, é crucial que continuemos a promover a ética, a responsabilidade e a transparência na IA, ao mesmo tempo em que valorizamos e
cultivamos nossa IN, afinal, a IA e a IN são duas faces da mesma moeda – a inteligência – e é nosso dever garantir que ambas sejam usadas para o benefício de todos.
Referência
SIT. SITE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Robôs devem ter direitos? Confucionismo tem alternativa
melhor. 26/05/2023.
Online. Disponível em:
www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=robos-devem-ter-direitos-confucionismo-tem-alternativa-melhor
Acesso em 31/05/2023.