Recorde ao inverso: O maior tempo de conclusão de uma maratona.
Prof. Ms. Luciano do Amaral Dornelles
@prof.lucianodornelles
19/08/2023
Em julho de 1912, mais de 18 mil espectadores se reuniram no Estádio Olímpico de Estocolmo, na Suécia, para assistir a maratona olímpica. Porém, o que era para ser um dia de festejos rapidamente tornou-se um evento estranho e, dos 68 corredores esperados para a exibição, apenas 36 apareceram, com o restante desistindo horas antes da largada e um deles, o japonês Shizo Kanakuri, simplesmente desapareceu.
Shizo Kanakuri foi um maratonista japonês, considerado o pai da maratona no Japão. Ele foi um dos primeiros atletas japoneses a participar dos Jogos Olímpicos, em 1912, em Estocolmo, na Suécia. Ele se classificou para a prova da maratona com um tempo recorde de 2 horas, 30 minutos e 33 segundos, em uma corrida de 40 km no Japão.
No entanto, a viagem até a Suécia foi muito difícil para ele. Ele teve que viajar de navio e de trem por 18 dias, passando pela Sibéria, e chegou a Estocolmo apenas cinco dias antes da prova. Ele não estava acostumado com o clima, a comida e as noites claras do verão sueco.
Além disso, o seu treinador estava doente de tuberculose e não pôde acompanhá-lo.
No dia da maratona, o calor era intenso, cerca de 42 graus Celsius, e mais da metade dos corredores desistiu da prova por causa da desidratação e do esgotamento. Kanakuri também sentiu os efeitos do calor e da fadiga, e resolveu parar em uma fonte para beber água. Nesse momento, ele viu uma festa de casamento em uma casa próxima, e foi convidado pelos moradores para entrar e se refrescar. Ele aceitou o convite e acabou desmaiando no sofá. Ele ficou na casa por algumas horas, até se recuperar, e então voltou para o hotel sem avisar os organizadores da prova. Ele ficou tão envergonhado pelo seu fracasso que voltou para o Japão em silêncio.
Os jornais suecos noticiaram que Kanakuri havia abandonado a prova no meio do caminho, mas os organizadores não receberam nenhuma confirmação oficial dele. Assim, ele ficou registrado como um corredor desaparecido, e surgiram várias lendas sobre o seu paradeiro.
Alguns diziam que ele havia sido morto por ursos na floresta, outros que ele havia sido preso e sequestrado por espiões russos, outros que ele havia se casado com uma sueca e vivia feliz na Suécia.
Enquanto isso, no Japão, Kanakuri continuou a sua carreira de maratonista, participando de outras duas Olimpíadas, em 1920 e 1924, mas sem conseguir medalhas. Ele também se tornou um professor de educação física e um treinador de atletismo, contribuindo para o desenvolvimento do esporte no seu país. Ele nunca contou a ninguém sobre o seu incidente na Suécia, até que em 1966 ele recebeu uma carta da televisão sueca, convidando-o para terminar a sua maratona inacabada. Ele havia transformado em lenda pelo país do leste europeu e conhecido como o “japonês que desapareceu”.
Ele aceitou o convite e viajou para a Suécia em 1967, aos 76 anos de idade. Ele completou os últimos quilômetros da maratona com um tempo não oficial de 54 anos, 8 meses, 6 dias, 5 horas, 32 minutos e 20,3 segundos. Ele foi recebido com aplausos pelo público e pela imprensa, e declarou: “Foi uma longa viagem. Ao longo do caminho, casei-me, tive seis filhos e dez netos”. Ele também recebeu um diploma olímpico pelo seu feito histórico.
Referência:
KANAKURI, Shizo. O tempo mais longo em uma prova de maratona olímpica. Disponível em: Shizo Kanakuri – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) Acesso em: 16 ago. 2023.